quinta-feira, 11 de outubro de 2007

Proposta para inibir os pegas

ERIKA KLINGL
DA EQUIPE DO CORREIO

A certeza da impunidade é
uma das causas das corridas
de rua, conhecidas
como pegas. A saída para
isso, de acordo com especialistas
ouvidos pelo Correio, é o monitoramento
das vias com câmeras.
A medida foi adotada, com
sucesso, em Fortaleza (CE), Curitiba
(PR) e nas rodovias que
cortam o estado de São Paulo.
“Os condutores que praticam rachas
sabem onde estão os radares
ou barreiras eletrônicas e diminuem
a velocidade. Dessa
maneira não são pegos. Se a via
for filmada o tempo todo, eles
não apostarão corrida com medo
de serem flagrados”, observa
o professor de Segurança Viária,
José Alex Sant’Anna, da Universidade
Federal do ABC.
Sant’Anna, que deu aula na
Universidade de Brasília (UnB) e
avaliou a segurança do trânsito
na capital, foi um dos responsáveis
técnicos pela instalação de
câmeras nas avenidas que eram
palco de pegas em Fortaleza. “O
processo é barato e simples. São
câmeras semelhantes às que filmam
condomínios ou apartamentos”,
explica. Se a Ponte JK
fosse monitorada por câmeras,
seria possível, por exemplo, saber
a placa do veículo S-10 envolvido
no acidente.

Indignação
O governador José Roberto Arruda
disse ontem que vai anunciar,
em breve, medidas para conter a
violência no trânsito. As estratégias
serão analisadas por uma
equipe do Detran e da Secretaria
de Transportes, além de técnicos
de fora do governo. “O que aconteceu
não é normal. Como uma
pessoa com passagens na polícia
estava dirigindo daquela forma?
Não podemos admitir isso. A situação
não pode ficar como está”,
afirmou. “Uma pessoa assim
estaria dirigindo em Londres?
Vamos anunciar medidas em
breve”, emendou.
Para o presidente do Sindicato
dos Servidores do Departamento
de Trânsito do Distrito
Federal (Detran-DF), José Alves
Bezerra, qualquer medida que
sirva para inibir o excesso de velocidade
é bem-vinda. “A falta da
sensação de que o condutor está
sendo vigiado e a idéia de que o
motorista pode fazer tudo o que
quiser na frente do volante é
uma combinação desastrosa”,
argumenta. Segundo ele, a partir
de dados do Detran, os casos de
morte nas vias do DF cresceram
de forma alarmante. “Só no mês
de agosto, foram 48 mortes. Um
número 80% maior do que o
mesmo período do ano passado.”
Os números não foram confirmados
pelo órgão fiscalizador.

Segurança
O que também contribui para o
agravamento das estatísticas é a
resistência dos passageiros em
usar o cinto de segurança quando
sentados no banco de trás
dos carros. No entanto, pouca
gente sabe é que ele é ainda mais
importante para os que estão
sentados atrás do que para o
condutor ou o carona localizado
na frente. Numa colisão com o
veículo se deslocando a 60 km/h,
uma pessoa de 60kg pode chegar
a pesar quase uma tonelada
(veja arte). De acordo com estudos,
se o veículo bater de lado,
os passageiros do banco de trás
podem ser arremessados para
fora do carro.
“Não dá para afirmar que as
vítimas do acidente na Ponte JK
sobreviveriam com o cinto, mas
os riscos de morte seriam menores”,
afirma o especialista em segurança
de trânsito, David Duarte,
da Universidade de Brasília. O
Código Nacional de Trânsito
(CBT), em vigência desde 1998,
determina o uso e médicos ortopedistas
alertam para a importância
do equipamento, que costuma
ser desprezado nas ruas e
estradas. “Muitas pessoas só
usam o cinto da frente e mesmo
assim para evitar uma multa”,
completa Sant’Anna.
No Distrito Federal não existem
pesquisas sobre o uso do
cinto por passageiros no banco
de trás. Mas um levantamento
da Agência de Transporte do Estado
de São Paulo nas rodovias
paulistas mostrou, há dois anos,
que 76% das pessoas não usam o
cinto de segurança no banco de
trás. Outro estudo, dessa vez realizado
no Japão, provou que não
usar o cinto aumenta em cinco
vezes o risco de morte de quem
está no banco da frente. De acordo
com o estudo, uma criança de
20kg solta, no banco de trás, numa
batida a 50 Km/h, se transforma
num corpo de 300kg.

COLABOROU ANA MARIA CAMPOS

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