DEPOIMENTO

LUIZ CLÁUDIO VASCONCELOS
“Essa pessoa tem de
apodrecer atrás das grades”

“A prisão dele era o que eu
queria, era o que todos nós das
três famílias queríamos.A gente
tem lutado muito por tudo
isso.Mas peço também que seja
condenado.Quando entrei
lá na sala do delegado para vêlo,
queria olhar para ele e ver se
realmente é um ser humano
como todos nós.Depois de tudo
isso, que Deus o perdoe.Ele
destruiu os sonhos de três famílias.
O que eu posso compreender
de um cidadão que se
arma com um veículo, se droga,
bebe e destrói famílias? Ele
é um monstro, é um perigo para
a sociedade.Por que esse homem
estava solto nas ruas?
Por quê? A dor física que estou
sentindo agora, porque estou
cheio de hematomas, não se
compara com a dor na minha
alma. Eu perdi uma grande
mulher. Ela morreu em meus
braços, deu o último suspiro
olhando para mim.Tive o privilégio
de viver ao lado dela
por 30 anos.Mas vou fazer tudo
aquilo que nós sonhamos e
planejamos.Vou comprar a
mobília que ela mesma escolheu.
A dor hoje é intensa.Não
durmo há três dias. Esta noite
eu abracei o travesseiro dela e
conversei com ele por várias
horas.Peço a Deus que ilumine
os nossos magistrados. Essa
pessoa é um desequilibrado
mental.Tem de apodrecer atrás
das grades. É o que ele merece.
Hoje eu olhei para ele e disse:
‘Você destruiu três famílias’.Ele
não respondeu nada. Ficou
apenas de cabeça baixa.”

LUIZ CLÁUDIO VASCONCELOS,
50 ANOS, É MARIDO DE ANTÔNIA
MARIA DE VASCONCELOS, 49,
UMA DAS VÍTIMAS DO ACIDENTE
OCORRIDO NA TARDE DE SÁBADO
NA PONTE JK. ELE DIRIGIA O
VEÍCULO ATINGIDO PELO GOLF.

Revolta no
cemitério
MARCELA DUARTE
DA EQUIPE DO CORREIO

Luiz Cláudio Vasconcelos,
50 anos, marido de Antônia
Maria de Vasconcelos, 49
anos, uma das três mulheres
que morreram no acidente
da Ponte JK , saiu carregado
por amigos da capela depois
do velório. Mas minutos antes
de enterrar a mulher, como
se tivesse retirado forças
do amor que sentia por ela,
pediu para fazer uma declaração:
“Só tenho que te agradecer
meu amor por ter te
conhecido. Eu te garanto
que, enquanto eu viver, você
não sairá da minha mente,
do meu coração… até a gente
voltar a se encontrar. Eu
nunca vou te esquecer”.
Para os familiares e amigos
das vítimas, a dor da perda
se confunde com a revolta
provocada pela brutalidade
do acidente que destruiu
famílias. Ontem, Antônia foi
velada ao lado da irmã Altair
Barreto até as 9h, na capela
10 do Campo da Esperança.
Depois, o corpo de Altair seguiu
para Goiânia onde
ocorreu o sepultamento.
Cerca de 200 pessoas foram
dar adeus a Antônia. Ela deixa
marido e três filhos.
O diretor do Detran, Délio
Cardoso, esteve no velório
e prestou solidariedade
à família. “É intolerável isso
que ocorreu. E o que é preciso
é uma resposta convincente
à sociedade”, disse.
Délio Cardoso voltou a afirmar
que se depender do Detran,
o acusado de causar o
acidente Paulo César Timponi,
49 anos, não dirigirá
mais em Brasília. Paulo teria
batido no Corolla onde
estavam as vítimas Antônia,
Altair e Cyntia Cysneiros de
Assis, 34 anos, durante um
pega com uma S-10. Cyntia
foi sepultada em Goiânia
na tarde de domingo. Altair
deixou dois filhos. Cyntia
deixou dois, um de 7 anos e outro de 3.